segunda-feira, 6 de maio de 2013


Eu desbaratei uma vida completa
para manter a coesão e nada adiantou.
Quem juntará os retalhos da carta rasgada
que se espalham pelo chão?

Eu confinei em Pandora todos os segredos
daqueles que não possuem lábios
mas todos eles me perseguem durante o dia
e a noite são esqueletos que caminham
pelas sombras das esquinas
Quem arrombará o cadeado e entesará
flechas para perfurar as aparições
daquilo que foi renegado por eles?

O peso do deserto há muito rompeu minha medula
Eu arrasto meu tronco com meus braços raquíticos
em meio ao mar de poeira que invade minha boca
Quem desconectará os nervos supérfluos
destes restolhos embrutecidos?

Eu queria apenas duas madrugadas insones
para ver o horizonte clarear com tranquilidade
Mas o cérebro adormeceu seus ponteiros laboriosos
e nada abrirá os olhos que incandescem na escuridão
Quem irá domesticar sonhos que saltam pelas paredes
como carneiros assustados que fogem de cães selvagens?

A tessitura do mundo se rompeu
Não é mais possível cerzir a velha colcha de retalhos
que um dia cobriu meu corpo e o protegeu.

2 comentários:

Unknown disse...

Forte e contundente como sempre soam teus textos e poemas.

É impossível passar incólume sem sentir algo ao ler teus escritos.

Abraço

Unknown disse...

Obrigada Glênio Freitas por ler, comentar e apreciar.
Sempre és bem vindo aqui.
Abraço
Adriane