domingo, 24 de novembro de 2013

OCO

Sabe o o que fica quando a saudade acaba?
Um oco no meio do corpo bem no meio
que espalha um formigamento estranho
até a ponta dos dedos dos pés e das mãos.

Esse oco no entanto é sonoro
Ouve-se uma batida por segundo
na metade do peito
É a percussão do nada musicando 
o silêncio do que já não existe.

E o som é mais ou menos assim
oco  oco
        vazio
oco
        vazio  vazio
oco   oco
   nada 
        vazio
            oco   oco
nada
    oco
    oco
    oco
    oco

Então surgem ponto de interrogações
na parte superior da folha
É que não existem perguntas sem resposta
mas há comprovadamente respostas
para as quais não é possível formular perguntas.

Por isso os sinais de pontuação
ficam pendendo na página 
na parte de cima no lado esquerdo 
querendo cair sobre linhas 
mas sem conseguirem
porque o oco está ali e as respostas também
entretanto as perguntas não existem
só é possível expressar a inquietude 
que surge com o desenho 
de um ponto de interrogação inexplicável.

Na parte de cima do corpo
milhões de neurônios desencadeiam
centenas de reações químicas e elétricas
para conjugar a percussão do eco oco
com as imagens que surgem
e escorrem por detrás das pupilas
que veem o invisível do que foi
do que se sentiu falta 
e hoje não existe mais.

Deixando seu buraco negro a saudade já acabou 
como acaba tudo o que se vive.

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