sábado, 18 de agosto de 2012

DOSE DUPLA

Já fazia algum tempo que não postava nada neste blog. Então, posto duas mini-crônicas, somente para dar uma renovada.


BLUES

Porque será que ficar sentada ouvindo certas coisas me dá essa sensação assim estranha?

Ouço Nina Simone, tomando café, e a voz suave e ritmada dela vai adentrando meu ser, me dando uma sensação de conforto desconfortável.


Ouço Nina como quem ri enquanto chora. Como quem já foi escravo e, agora livre, é feliz, mas não tem bem noção do que vai fazer.



O blues dispara uma bala contra mim. E não sei se danço, se me acomodo para sentir ou resolvo não sentir para não parar.

Nina Simone é assim: uma bala em meu peito, que sangra sorrindo por morrer a morte melancólica de um poema triste, mas estranhamente feliz.


VIDA DE BOIADA

Hora do almoço. Sai a boiada em disparada para deglutir rapidamente sua ração diária antes que acabe o intervalo. O patrão chibateará o gado desobediente que voltar depois do horário.

Corre boi, corre vaca, novilhos e bezerros. Nada pode evitar que a disparada seja certa, nem que o relógio corra.


Quando voltarem do campo para seus currais somente terão tempo de beber água, dormir uma noite alucinada e voltar de madrugada para o frio campo, para lavrar uma terra que não é sua, pastar uma grama ressecada pelo sol.

Depois... depois mais nada, só a vida árdua seguindo no remanso desta estrada empoeirada.

 (18/08/2012)

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