quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

CÁLICE


E tu
        tu lanças essas palavras infames ao vento
        que reverberam em meu rosto
        como a tempestade que bate em meu corpo
                  inclementemente

A chuva golpeia as vidraças
A porta bate por causa da ventania
                  dolorosamente
enquanto raios e trovões retumbam no espaço

O temporal acossa meu corpo encharcado
Fico aqui de braços abertos sentindo em mim
a tormenta daquilo que nunca acaba

As palavras gritam seus ecos em meus ouvidos
que os acolhem sedentos mesmo constrangidos
Meus olhos fechados viajam no tempo
Minhas mãos tateiam as gotas escorregadias
capturando-as sem as aprisionar

Então grita
                  Grita esses vocábulos de água e fogo
                  que vergam minha vontade
         
O veneno já foi difundido em minhas veias
O trovão impele tua ânsia escondida
E eu
        eu apenas beberei o cálice dulcíssimo
        das volições amortecidas.

2 comentários:

Matheus Bandeira de Carvalho disse...

Que lindo, Adriane! A interpretação para cada texto, poema, crônica (apesar de ser já crítica) é muito subjetiva e não pude deixar de notar o sofrimento de quem escreve, da personagem. É tangível, é concreto. É como se os olhos dela ou dele se fechassem e o grito, o desespero para a fuga, naquela ocasião, se fizesse imediata. As discussões nunca são necessárias e ainda por cima causam dor. Como estas. Parabéns. Acredito ser o poema mais bonito que já li teu. Teu português brilhante e a sensibilidade me arrepiaram.

Unknown disse...

Grata Matheus.
Também gostei muito de escrever este poema e entrou para a pequena lista que nem cabe em uma mão dos textos de minha autoria que eu mais gosto.
Apreciei muito tua análise.
Aparece sempre que quiseres.
Abraços.