O branco do papel fura
seus olhos castanhos
Ela já desistiu das letras
mas prossegue rabiscando.
Ilusão vã essa de que na hora certa
vai acertar o passo com o tempo
e dizer algo realmente espantoso.
Seus olhos furados
que assim mesmo veem
- E, Deus! Ela daria tudo para não ver
para não sentir
para não temer
e, principalmente, não desejar -
analisam os insetos que permeiam
o ambiente por onde anda às apalpadelas
vislumbra o buraco em irá
mais uma vez e ainda outra vez tropeçar
a claridade que oculta todos os seres
que rastejam ou não
e deveriam se envergonhar dos dejetos
que deixam por onde teimam em passar.
Eles veem ainda
- E como não queria ver -
a sombra que pensam perdeu sua hora
Contudo, ainda não, não ainda
deixará de espreitar de um canto qualquer
ficando a assombrar por um largo tempo
essas órbitas estranhas.
O branco do papel vazou seus olhos
que continuam, entretanto,
a serem janelas das almas alheias
enquanto escurecem
o que ela carrega em seu interior.
*Escrita em 28/01/2016, no 'stand' da Academia Rio-Grandina de Letras, durante a 43ª Feira do Livro do Cassino.
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