Sou dez pessoas em uma só. E, no entanto, quem me observa, nada vê além do que seria visto normalmente. Uma figura comum, meio divertida, meio séria, com uma fraqueza por coisas exóticas, por músicas esquisitas, por voar no meio do expediente, sem deixar o local de trabalho e enquanto continua fazendo o que faz todo dia.
Sou uma estátua, embora minha mente esteja mil anos adiante, porque, quando estou amordaçado, então, e talvez somente então, é que sou livre.
Por um momento eu precisaria apenas sumir no anonimato de ser uma figura pública, onde a vida privada destes se torna o entretenimento dos 'voyeurs' de plantão, que acham que a miséria alheia é diversão garantida e alucinógeno indicado para esquecerem suas vidas estupidificantes.
'Já que sou tão idiota, tenho o direito de me divertir com a desgraça das entidades públicas que o são mais do que eu e ficam perambulando, sem direção, pela Tv, pelo rádio e internet '. E isso é tido como idolatria. Eu daria outro nome...
Quem sabe eu preciso fundir, temporariamente, meu ser em outro que já está aqui, mas nunca se viu. Preciso que ele assuma o controle do meu corpo e me conduza pela estrada quase prosaica do esquecimento, do amortecimento.
É escura essa via de mão única, mas tripartida, não para que mais carros possam correr por ela, mas para que outras faces possam se esconder nas sombras dos arbustos que a isolam. E não são monstros que ali se ocultam, são coisas comuns que assustam mais do que aberrações.
Nada é mais assustador do que um ser humano que perdeu sua humanidade.
Mas, pela estrada, ninguém vem de lá, ninguém vem de cá. Há quanto tempo estou parada no cruzamento, enquanto meu eu desliza atrás do tempo passado?
A estrada vazia, poeirenta, me causa um suador. Me consome, me deixa com a boca seca, porque o sol a escalda. Há muito que nela nenhuma chuva cai. Ferve o asfalto durante a minha caminhada, mas eu não paro, embora já não corra como antes.
E isto é estranho, porque eu sei que preciso prosseguir mas fico querendo deitar debaixo daquele pequeno arbusto que, tão sedento quanto teu, quase já desistiu de viver. Nenhum refrigério virá de suas folhas esturricadas, contudo, eu quero, como eu desejo deitar ali e ser consumido pela areia do tempo, que machuca o coração, mas não cega.
Eu preciso por um momento, talvez por um segundo apenas, esquecer de quem sou. Parar no meio do percurso e rever, por cima do ombro aquela criança que me acena insistentemente implorando ajuda, mas que eu faço questão de ignorar.
Entretanto, duvido que minha consciência me permitirá esquecer que a estrada a frente e a desumanidade que me consome me ordenam a prosseguir".
2 comentários:
estou te seguindo!! Adorei este post! ;)
beijussss
Grata Natália. Fico feliz em te receber neste espaço.
Abraço.
Adriane Bueno
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