* Foto obtida gratuitamente no Google Imagens
Amava esses momentos, entre o cansaço e o sono, em que ficava escutando músicas que somente tinham significado para si. Músicas em línguas estranhas, mas que, por alguma razão que não entendia muito bem, conseguia interpretá-las, adivinhar seu significado e até conseguir cantá-las com sua voz profundamente desafinada.
Amava esses momentos, entre o cansaço e o sono, em que ficava escutando músicas que somente tinham significado para si. Músicas em línguas estranhas, mas que, por alguma razão que não entendia muito bem, conseguia interpretá-las, adivinhar seu significado e até conseguir cantá-las com sua voz profundamente desafinada.
Nestes momentos ficava flutuando
entre três ou quatro dimensões: imagens de agora, de amanhã, de ontem e de outro
lugar invisitado, mas conhecido, deslizavam frente a seus olhos e compunham um
quadro completo do que não era, mas tinha sido em algum momento de sua vida.
Parecia que tinha bebido. Talvez até tivesse e não
se lembrasse, e acabava misturando as notas musicais e as letras das mesmas com
os trechos significativamente misteriosos do novo livro que estava lendo. Já havia
vários rabiscos nas páginas com suas impressões gerais sobre a obra e o que
pretendia dizer dela ou escrever com base no sentimento que a narrativa estava
lhe ocasionando.
A constante releitura do ato de escrever alheio e
seu próprio já se havia transformado num tabuleiro de xadrez que não conseguia
entender, mas teimosamente continuava mexendo nas peças sobre o mesmo. A derrota
era certeira, mas o prazer do desafio lhe daria a recompensa necessária por
perder a partida, porque aí compreenderia os meandros da mente do escritor, sabedoria que tentava alcançar com base nos parcos conhecimentos
que tinha de sua própria pessoa, de sua escrita e do que afinal não era.
E a música, suave ou intensa, lírica ou totalmente
manchada pelo rock pesado, ia adormecendo sua mente e olhos para as letras que
ainda tentava decifrar. Ainda persistia em espionar a vida dos personagens
tendo como base a vida real, embora o exercício devesse ser ao contrário. Ou
não?
O corpo que carregava seu cérebro, além disso,
resolvia, volta e meia, desenhar uns passos de dança mesmo preso a poltrona de
leitura. Há quanto tempo não dançava? Mas isso não importava, como um agente
secreto da própria vida e da alheia prometera intimamente que não voltaria a
fazer perguntas idiotas que não mereciam ou não tinham resposta por falta de
sensatez na questão.
Apenas fechou os olhos, sentiu a música e lembrou-se
de memória do último dizer que anotou na obra que estava lendo. Acabou
adormecendo na poltrona com a sensação de que o livro desvendou todos os
segredos que nunca tinha se atrevido a revelar para si mesmo.
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