BLUES
Porque será que ficar sentada ouvindo certas coisas me dá essa sensação assim estranha?
Porque será que ficar sentada ouvindo certas coisas me dá essa sensação assim estranha?
Ouço Nina Simone, tomando café, e a voz suave e ritmada dela vai adentrando meu ser, me dando uma sensação de conforto desconfortável.
Ouço Nina como quem ri enquanto chora. Como quem já foi escravo e, agora livre, é feliz, mas não tem bem noção do que vai fazer.
O blues dispara uma bala contra mim. E não sei se danço, se me acomodo para sentir ou resolvo não sentir para não parar.
Nina Simone é assim: uma bala em meu peito, que sangra
sorrindo por morrer a morte melancólica de um poema triste, mas estranhamente
feliz.
VIDA DE BOIADA
Hora do almoço. Sai a boiada em disparada para deglutir
rapidamente sua ração diária antes que acabe o intervalo. O patrão chibateará o
gado desobediente que voltar depois do horário.
Corre boi, corre vaca, novilhos e bezerros. Nada pode evitar que a disparada seja certa, nem que o relógio corra.
Quando voltarem do campo para seus currais somente
terão tempo de beber água, dormir uma noite alucinada e voltar de madrugada
para o frio campo, para lavrar uma terra que não é sua, pastar uma grama
ressecada pelo sol.
Depois... depois mais nada, só a vida árdua seguindo no remanso desta
estrada empoeirada.
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