Eu desbaratei uma
vida completa
para manter a coesão e
nada adiantou.
Quem juntará os
retalhos da carta rasgada
que se espalham pelo
chão?
Eu confinei em
Pandora todos os segredos
daqueles que não
possuem lábios
mas todos eles me
perseguem durante o dia
e a noite são esqueletos
que caminham
pelas sombras das
esquinas
Quem arrombará o
cadeado e entesará
flechas para perfurar
as aparições
daquilo que foi
renegado por eles?
O peso do deserto há
muito rompeu minha medula
Eu arrasto meu tronco
com meus braços raquíticos
em meio ao mar de
poeira que invade minha boca
Quem desconectará os
nervos supérfluos
destes restolhos
embrutecidos?
Eu queria apenas duas
madrugadas insones
para ver o horizonte
clarear com tranquilidade
Mas o cérebro
adormeceu seus ponteiros laboriosos
e nada abrirá os
olhos que incandescem na escuridão
Quem irá domesticar
sonhos que saltam pelas paredes
como carneiros
assustados que fogem de cães selvagens?
A tessitura do mundo
se rompeu
Não é mais possível
cerzir a velha colcha de retalhos
que um dia cobriu meu corpo
e o protegeu.
2 comentários:
Forte e contundente como sempre soam teus textos e poemas.
É impossível passar incólume sem sentir algo ao ler teus escritos.
Abraço
Obrigada Glênio Freitas por ler, comentar e apreciar.
Sempre és bem vindo aqui.
Abraço
Adriane
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