Por que estes
olhos tristes, menininha? É porque teu principezinho ainda não chegou? Por que
não tens aquela bonequinha que viste na vitrine? Por que não ganhastes os doces
que querias? Ou será porque teu sorriso chora lágrimas, mesmo quando estás com
gente boa?
Porque, porque
teus olhos castanhos tão grandes e belos mostram tão limpidamente para mim essa
tristeza, que não cabe nesse mundo de Deus, mas que outros parecem não ver?
Tens uma
travessa amarela para alegrar teus curtos cabelos, onde se percebem minúsculas
bolinhas brancas. Serão pequeníssimos flocos de neve? Ou sugerem a existência
de alguma coisa viva a transitar em tua cabeça?
Teu pequeno
corpo está coberto por um vestido meio curto (creio que não era teu, como tudo
que tens), um casaco batido de pelo mesclado e teus pezinhos calçam tamancos,
sem meias, deixando a mostra uns dedinhos meio roxos, com unhas um tanto
enegrecidas, que bem combinam com a tua vida insípida. E teus olhos de longos
cílios continuam a refletir essa tristeza que somente alguns adultos conhecem.
Então, me conta:
porque estás tão triste, pequenina? Será por causa da travessa que não combina
e nem alegra teus cabelos opacos? Será pelos minúsculos flocos de neve ou de
outras coisas que vivem em tua cabeça? Pelo vestido curto que nunca foi teu
realmente? Pelos tamancos que não aquecem teus pés?
Sentirás falta
de teus pais que quase sempre estão viajando? Tens medo das pessoas que hoje
estão a tua volta. Desejas o caderno de desenho do teus dois irmãozinhos, que
se distraem rabiscando figuras fantásticas, enquanto tu, tu tens que te tornar
algo maior, deixar as fantasias para
eles e cuidá-los contra o mundo? Aliás, quem cuida de ti, menininha triste?
Será que alguém
vê tua pobreza, teu frio, teus medos, tuas tristezas, tua solidão, teus
pequenos sorrisos tímidos, teus sonhos secretos de criança crescida? Será que
alguém ama a ti, tão grande e pequena, tão inocente e tão suja, tão triste, tão
infeliz?
Então, teus
dedinhos das mãos encontram os cabelos da moça bonita ao teu lado e que hoje,
por um breve momento, está zelando por ti. São tão macios, tão lisos, tão
brilhantes. Tu o afagas com um misto de inveja e alegria por conseguir o que
tanto desejavas.
Será que eles
lembram os teus cabelos quando eram compridos? Será que tu os deseja para ti? E
um sorriso verdadeiramente feliz brota em tua pálida face e ilumina teus olhos
escuros por um segundo. Ah! Este teu sonho! Querias ter cabelos compridos e
bonitos como o da tia que, ao menos hoje, cuida de ti.
Ah, menininha!
És moribundamente triste, como a tristeza do mundo que vive de sentimentos
mortos, preferindo a fantástica hipocrisia de livros amorosos do que ver o amor
nos tristes olhos de menininhas pobres como tu.
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