sábado, 15 de fevereiro de 2014

QUANDO O TERROR BATE À SUA PORTA*

Então o terror bateu. 
Estava sentada diante do computador já devia fazer umas seis horas. Digitou até o ombro doer. Corrigiu frases até que os olhos míopes ficaram estrábicos. Enviou arquivos em desespero total para conseguir se livrar da tarefa, apesar do prazer que derivava dela e da ansiedade para ver o resultado.
Mesmo assim, o medo continuava a cutucar sua nuca.
Tudo porque o fato terrível estava batendo à sua porta desde a última segunda. Sim, nunca deveria morrer por antecipação, como fazem os perus. Contudo, estava acima de suas forças evitar a morte anunciada, e que era impossível impedir, como aconteceu com aquele personagem do Gabriel Garcia Marques.
Quanto mais o fim de semana se aproximava, pior ela ficava. Estava acalorada. De mal humor. Estava se sentindo uma desgraçada, uma infeliz. Nada além da imagem de um relógio, onde o tempo escorria rapidamente, pairava diante do seu foco de visão, o que contribuía, não apenas para seu senso de urgência, mas de indignação com a vida. 
Sabia perfeitamente que estes sentimentos eram exagerados. Que não havia motivo para tanto drama; que a transição, mesmo que um pouco desconfortável, se daria naturalmente, como ocorre com todo mundo.
Mesmo assim, mesmo tendo noção da sua falta de consciência e razoabilidade diante de algo normal, continuava aflita, assustada, enraivecida. Por isso tentava fazer o máximo de atividades possíveis dentro das 24 horas que um dia possuía, principalmente porque eram os últimos dias em que teria condições perfeitas para fazer atividades do mesmo tipo, com tanta frequência, pelos próximos nove ou dez meses.
Aliás, já estava olhando o calendário para saber, mais ou menos, a data em que iria ressuscitar no próximo ano. 
E o pior: sobre a mesa já havia indícios suficientes de coisas um tanto desagradáveis que deveria fazer quando a próxima segunda chegasse.
Ah! Péssimo hábito este que tinha de olhar para aquilo que, no momento, odiava. Alguém poderia acabar concluindo que possuía alguma coisa de masoquista. 
Enfim, que se dane o mundo. 
Tinha que se preparar para o fato inadiável e irremediável.
Infelizmente, o terror bateu à sua porta: no domingo, as férias iriam acabar.

*Escrito na antevéspera do dia último dia de férias, em janeiro.

Um comentário:

Karine Tavares disse...

Parabéns pelo teu blog!
Vem conhecer o meu:

feitaparailetrados.blogspot.com