E de vez em quando existe essa coisa que quer se elevar no peito em pleno dia, quando só deveria querer saltar para fora durante a noite.
Preferencialmente numa noite sem lua, onde ninguém poderia perceber seu sorriso ou sua tristeza, sua calma ou ansiedade, seu desprendimento ou seu desejo.
A luz do sol reflete com maior reverberancia a intensidade dos ditos jocosos e das palavras superficiais, que servem apenas para aplacar a necessidade diária do diálogo prosaico.
Todas as frases que deveriam ser gritadas são caladas e caem letra a letra no caldeirão que foi criado especialmente para destruir palavras que não devem ser pronunciadas.
Nunca.
O peito, naturalmente, está elevado com o discurso tantas vezes revisto. Sim, existe o desejo de declará-lo e levantar a bandeira que antes se renegou.
Se houvesse um hino para esta ocasião, certamente ele estaria sendo tocado agora, em alto e bom som, para que os interessados ou não pudessem ouvi-lo.
Talvez a música, especialmente produzida para o ato metafísico de comunicação, romperia as barreiras e insuflaria a multidão a levar a mão ao peito e esbravejar a letra, embora não a entendesse em sua plenitude.
Mas não existem hinos para palavras impronunciadas.
Não existem expectadores para atos não realizados.
Então, prossegue o peito com seu anseio elevado. Contudo o silêncio pragmático, algoz certeiro daquilo que não se deve esbravejar, subjuga a transcendência sentimental novamente.
Mas não há arrependimentos.
Somente uma pequena frustração pela chance perdida de dizer, pela última vez, uma frase que poderia conter um romance inteiro ou, ao menos, uma apaziguadora ilusão de que este existe.
2 comentários:
Essa coisa que explode no peito ainda nos matará... ainda bem que existem os curativos da escrita. Gostei do texto. Beijos, Vanessa.
Sim, Vanessa, ainda bem que existem esses curativos.
Grata pela leitura e comentário.
Abraço
Adriane
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