RODAMOINHO
Gotas retilíneas caem no
piso do pátio.
Mais uma pitanga despenca de
sua mãe. Desperdício ou inevitabilidade?
O vento sopra um pouco leve,
um pouco forte.
O calor derreteu.
Viração.
Mais uma frente fria chegou
a cidade.
ESTRELINHAS
PERDIDAS
Nunca fora daquelas alunas
que recebiam estrelinhas no caderno. A letra era feia, aprendeu a ler de
verdade somente na 2ª série do antigo primeiro grau, e, por causa de uma
insuperável timidez, quando alcançou a cobiçada capacidade de leitura, nunca
foi agraciada com alguma medalha porque não conseguia ler em público.
Também não recebia
estrelinhas por seu capricho com os cadernos, a letra, além de feia, era
escrita com tanta pressa que ao errar e apagar o erro para corrigi-lo, surgia
um borrão na página em branco, que maculava todas as respostas certas. Além
disso, as palavras dificilmente obedeciam às linhas e margens.
Verdade seja dita: poderia
ter recebido algum troféu porque desenhava muito bem. Inclusive, no seio
familiar, causou sensação por conseguir desenhar perfeitamente um elefante sem
usar um esboço ou sem ter visto um ao vivo e a cores (exceto na televisão,
claro). Mas também neste aspecto, por vergonha, raramente mostrava suas obras
de arte a professora. Assim, também não recebeu nenhum reconhecimento por este
dom.
Enfim, nada de estrelinhas
no caderno, medalhas ou nome exposto no mural de sua sala de aula.
Seria por isso que toda vez
que ganhava um troféu, jogando seu play station ou por alguma coisa que fazia
na internet, virava criança como se houvesse encontrado o maior tesouro do
Universo?
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