- Vocês perceberam que a palavra Graça está com a letra maiúscula?
Os ouvintes responderam que sim, mas o que isso indicava? Para
eles, nada de especial. Eles não conseguiam atinar aonde Rafael queria chegar,
porque além dessa palavra e da indicação de que, aparentemente, alguma espécie
de graça tinha deixado eles, o resto da estrofe não fazia sentido,
raciocinaram.
- Claro que faz. Não é só a palavra ‘graça’ que está com uma letra
grifada. Outras também estão. Se trata de uma anagrama, gente. Um simples anagrama
e a palavra ‘Graça’ é a chave para descobrir e eu já descobri. Vejam. – Rafael
pegou uma caneta e rodeou algumas letras na mensagem, passando o papel original
para os outros lerem.
O que eles viram apareceu assim:
“Quem diria?
As Graças nem sempre
Espalham bênçãos e alegrias.
Seria falta de zelo?
Ela foi tarde.
Ainda era aquela que bendizia?”
Eles olharam o emaranhado de letras em destaque, mas não
conseguiam entender o significado. A palavra estava embaralhada. Olharam para
Rafael como se ele estivesse louco. Ele suspirou impaciente.
- Pessoal, ai diz Graziela. Graziela, nossa amiga que acabou de
ser enterrada.
- Mas como tu sabe disso? – Perguntou Augusto, ainda sem querer
acreditar.
- Eu li e reli e não estava entendo também. Até que meus olhos
ficaram embaralhados e eu percebi duas letras diferentes. A primeira foi o ‘G’
de graça, depois o ‘l’ na palavra ‘aquela’. Então fui vendo letra por letra até
que achei todas as que eram diferentes. Mas também não atinei com o sentido. O
que me despertou para ele foi a palavra ‘graça’, com inicial maiúscula no meio
da frase. Então essa era a pista pra acertar o anagrama.
“Eu estudo Letras. O termo ‘graça’ vem do latim, ‘gratia’, que
significa, entre outras coisas, bondade, benevolência, dádiva. Ora, Graziela
tem a mesma raiz e significa ‘aquela que traz bênçãos ou alegrias’. Bençãos
também podem ser entendidas como ‘graças’ num sentido teológico. Daí o nome só
podia ser Graziela, ‘aquela que bendizia’, pois ela sempre nos ajudava”.
- Digamos que tu está certo, Rafael. O que esse cretino quer dizer
com ‘ela foi tarde’? E porque indicar o nome da Grazi? – Ester perguntou. Pelo
visto a pista ainda não estava totalmente solucionada. Rafael ficou quieto.
Isso ele não sabia.
- Não importa porque há a referência ao fato da Grazi ter partido
tarde. Acho que o que importa é o fato dela ser mencionada em primeiro lugar. –
raciocinou Paulo, ele era representante de vendas de grandes medicamentos. –
Será que ela tem algo a ver com tudo isso?
Todos disseram que isto era impossível. Grazi não faria uma coisa
destas com eles, era amiga de todos. E se fosse ela, certamente ela não estaria
morta.
- Isso não importa agora. O que importa é: porque em primeiro
lugar o nome da Grazi? A pista deveria estar ali, mas não está e todas as
outras folhas estão em branco. O que vamos fazer? – Alex questionou.
Já era 21h20, o tempo estava se esgotando. Então Augusto sugeriu:
- Será... pode ser um absurdo, mas precisamos pensar em alguma
coisa... Será que a mensagem não indicaria que devemos fazer uma visita a casa
da Grazi? Talvez o criminoso queira que vejamos ou encontremos algo na casa
dela. O que acham?
- Não sei. Acho que não é isso. – retrucou Fernando irritado com
uma ideia tão obvia.
- Mas acredito que seja válido tentar isso. – argumentou Paulo em
tom de urgência. – Aliás, acho válido tentarmos qualquer coisa, porque senão,
em pouco tempo Carlos vais estar morto. Vamos recolher esses papéis e vamos
direto pra casa da Grazi.
- Por mim tudo bem. Mas como vamos entrar? Ou tu está pensando em
arrombar a casa dela e incluir mais um crime na tua lista? – Fernando falou
sarcástico.
- Não sei de crime nenhum. – Paulo respondeu com rispidez. – Mas
tens razão. Seria preciso arrombar, o que poderia chamar a atenção dos
vizinhos.
- Não vai, não. Eu tenho uma cópia das chaves. – Rafael disse
mostrando um chaveiro ao grupo. – Ela me deixava cuidando da casa quando
viajava. E éramos muito chegados, vocês sabem.
“Sim, ‘muito chegados’”, Augusto pensou com amargura. “Quem sabe o
quanto”.
- Bom minha gente. Vamos lá, senão vamos achar o Carlos morto. –
Rafael finalizou zombeteiro, como de praxe.
Todos saíram recriminando o rapaz pelo comentário infeliz. Na rua,
se separaram em dois carros e partiram a toda velocidade para a casa de
Graziela, ansiando para que chegassem ao local a tempo. Contudo, intimamente,
quase todos já haviam se convencido que era tarde demais.
[continua]
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