Eu estou realmente assustada! Percebi que não consigo escrever nenhuma
poesia! Será que perdi a rima, a melodia, algum compasso musical ou silábico?
Ou pior: será que, de fato, perdi a sensibilidade, a percepção, os encantos e
desencantos emotivos, a paixão que movem os poetas?
Só sei que não posso, não consigo, sequer uma estrofe redigir. Talvez minha
desilusão seja com o mundo, o de dentro ou o de fora. Talvez a cinza da rua tenha
me atingido o coração com tal intensidade que bloqueou qualquer fonte
inspiradora. Ou será que o frio que me tomou o peito externou-se por fim? Porque
sou daqueles que creem que já não é possível poetar quando o sangue congelou-se
nas veias.
Sinto as pétalas de flores friosas roçarem minha mão e desejo retê-las.
No entanto, não posso prendê-las, aquecê-las ou confortá-las, pois o acesso ao
jardim me foi proibido. E me pesa a dor de saber que não devo alcançá-las.
A metáfora certa para meus versos capengas também não consigo achar ou
elaborar. E tanta falta elas estão me fazendo!
Já por alguns dias, somente a prosa surge a minha frente. Salta de um
beco escuro e me assalta despudoradamente, conduzindo minha mão, mesmo quando
não quero. Maldita esta!
Maldita a prosa que de mim flui, porque ela só produz personagens
estranhos e desonestos. Nada de bom surge da minha prosa. Somente descrições baças
de um mundo absolutamente concreto, que se esfumaça e cai, repentinamente, aos
borbotões.
Isto é intensamente arrepiante. É o terror se transformando em ser vivo
ante meus olhos incrédulos e temerosos. Serei sempre a prosaica escritora de
contos funestos? Verei nascer em meu caderno apenas a oxidação que toma conta
do cerne humano?
E nada de poesia, de canções, de ódios ou paixões melodiosamente
decantadas em verso, rima e estrofe!
Tudo isso por causa da prosa, essa maldita aberração que, por hora, dos
meus dedos brota.
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